segunda-feira, julho 25, 2005*
*Plim*
 A abertura de Six Feet Under é uma das coisas mais geniais já feitas para a televisão. Video arte, provavelmente. E o segundo álbum de trilha sonora da série é outra coisa fantástica. Além de Radiohead, Nina Simone, Death Cab for Cutie e Bebel Gilberto, foram gravadas exclusivamente para este CD faixas inéditas de Interpol, Caesars e Arcade Fire. Fantástico. ***E, furo de reportagem. Vai ter Tim Festival em São Paulo, também. Não foi o Lucio Ribeiro que falou, ou seja, deve ser verdade!
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sexta-feira, julho 22, 2005*
Banquete com os deuses, chá com Leonardo, sobremesa com JúliaResolvi ler O código Da Vinci (Dan Brown, 2003). Resolvi ler com arrogância, prepotência e preconceito, já achando o livro ruim e o autor um farsante. Para meu deleite, todas as expectativas se confirmaram. A grande experiência positiva da leitura, diga-se de passagem, foi poder falar mal com propriedade, com o argumento de já tê-lo lido. Apocalíptico, como condenado, sim. Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa!Na minha modesta e insignificante opinião, digo que o livro é absurdamente mal escrito. Talvez pela estratégia de best seller. Talvez Brown seja um mau escritor. As descrições são triviais, as analogias ridículas e os personagens são tão psicologicamente profundos quanto uma alcachofra (ignorando-se o aspecto figurativo, obviamente). Entendo parcialmente porque o livro fez sucesso, naquela lógica batida de análise da indústria cultural. O código Da Vinci é cheio de curiosidades, tem suspense e é subversivo. É verdade que as curiosidades são bem... curiosas. Mas, indo direto ao ponto, o suspense é baratíssimo. E a subversão é praticamente contradita nos últimos capítulos. Falando em capítulos, o que sobra é uma história curiosa de 420 páginas divididas em 105 capítulos. Não existe história mais atraente do que uma série de crimes e um mistério. Folhetins, romances policiais, novela das oito, seriados sobre criminalistas sagazes, escolha seu prato. A própria estrutura de pequenos capítulos é descaradamente folhetinesca. Pra melhorar, a temática também é sedutora. Dan Brown resolveu colocar a Igreja Católica no centro. Melhor: como a grande vilã de toda a História da humanidade, mais uma comedora de criancinhas, ao lado do comunismo, do Michael Moore e da Microsoft. Prefiro não entrar em questões de crítica da política da Igreja Católica, mas a intelectualidade liberal adora criticar o conservadorismo religioso e político, e nada melhor que um novo romance cool que põe a Igreja no banco dos réus. A grande e indiscutível verdade universal - revelada a mim por fontes que prefiro preservar - é que O código Da Vinci é um grande e gordo caça-níquel, com todos os componentes de um livro feito para vender. Pior: ainda trouxe uma horda de outros aproveitadores, que lançaram Desvendando o código da Vinci, Descobrindo o código Da Vinci, Desmistificando o código Da Vinci, Deskitschificando o código Da Vinci, Aprendendo a ler com o código Da Vinci, Sendo intelectual com o código Da Vinci e Cozinhando com o código Da Vinci. ALém disso, livro é inegavelmente kitsch (desculpem-me pela persistência do termo, mas esta não será a última vez). Midcult, talvez. Acho engraçado que, hoje em dia, qualquer literatura - exceto a infantil e a de banca de jornais - é considerada arte. Esse fato é quase um contragolpe em relação às campanhas do tipo "Desligue a tevê e vá ler um livro". Certo, a pessoa vai ler um livro e, já a partir desse ato, se acha mais inteligente. Um verdadeiro intelectual que prefere ler em vez de assistir à Hebe. Qualquer livro exige uma capacidade intelectual estupenda. Ler O código Da Vinci é estar 420 páginas mais inteligente. Esse aqui é um exemplo ainda maior dessa kitschificação. Além de ter lido um livro enorme que todo mundo estava falando bem e estava há várias semanas na lista dos mais vendidos, o leitor vê referências intelectuais em tudo quanto é canto. " A última ceia? Ah, sim, claro! Já a vi quando fui ao Louvre, no ano passado". É uma massagem física no cérebro, praticamente. E ainda passa ao leitor a sensação de estar experimentando toda aquela arte, aprendendo toda aquela história da humanidade, descobrindo todos os podres da Igreja. O leitor - ao se vangloriar com a arte que consome - acaba se vendo refletido no protagonista, Robert Langdon. Ele é o homem instruído e respeitado, que nunca erra. Se contam-lhe alguma coisa que aparentemente não sabe, segundos depois ele "se lembra que já tinha visto aqui antes em algum lugar em algum momento de sua vida, mas tinha só esquecido". Parece que o leitor só se vê refletido em Langdon porque Dan Brown menospreza tudo o que não é Langdon. Ele é o centro perfeito, envolto em uma periferia imperfeita. As únicas pessoas minimamente respeitáveis são outros intelectuais e acadêmicos, mas que nunca serão tão brilhantes quanto ele. Quando Langdon dá uma aula na universidade ou em um presídio, é interrompido freqüentemente por comentários realmente irracionais, que o fazem corar. Langdon é refinado demais até para ouvir uma piada de mau gosto sobre sexo. Pobre massa pouco instruída. Nunca tiveram o prazer de conhecer Botticelli.E depois dizem que criticar a indústria cultural é a grande arrogância pós-modernista e pseudo-intelectual. Brown é o verdadeiro arrogante, aqui. Escrever um best seller não significa ser do povo. Chega a ser vergonhosa a maneira como ele deprecia qualquer pessoa que não seja inteligente, refinada e culta como Langdon - ou seja, como Brown. Brown deve se orgulhar de ter escrito um livro requintado, uma obra de arte, que faz ele mesmo sentir-se mais culto. Finalmente um livro que faz jus a sua intelectualidade. E para ser lido com o dedo mindinho levantado.
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quarta-feira, julho 20, 2005*
EnxadristaNão acho que vou jogar xadrez com a Morte no fim dos meus tempos. Mesmo que de repente tudo fique preto e branco, e a Morte chegue de sopetão, falando em sueco e me desafiando para uma partida de xadrez, tenho certeza que entraria em pânico. Antes de mais nada, quero avisar que nunca vi o filme do Bergman. As referências são provenientes de conhecimentos esparsos que irritariam qualquer cinéfilo que já viu o filme e vai me chamar de pseudo-qualquer-coisa. Mas, pelos trechos de vídeo e pelas fotografias, a Morte do Bergman parece extremamente macabra. Seria muito mais divertido se aparecesse alguém do elenco de Dead Like Me ou aquela morte com capa preta, fazendo uma bola de chiclete. Mas se qualquer Morte me chamasse pra jogar xadrez, apostando minha vida, tentaria fazer uma contra-oferta. Ofereceria a vida de outra pessoa (de preferência o vocalista do Coldplay ou algum ator da Globo). Ou então faria uma tentativa barata e desesperada de esconder um peão ou uma torre, para interromper o jogo. Eu conheço as regras do xadrez e, portanto, posso dizer que sei como jogar xadrez, mas não posso dizer que sei jogar xadrez. É algo muito diferente. É a mesma diferença entre saber russo e falar russo. Só bastaria um pouco de prática. Imagino que me sairia melhor se o jogo fosse outro. Depois do sumiço da torre, ofereceria à Morte uma partida de Master. Não sei se seria uma aposta muito inteligente, já que a Morte não tem cara de ser uma pessoa burra. Provavelmente ela ia pegar minha alma quando eu errasse uma questão de História Natural. Talvez fosse melhor Banco Imobiliário. Não sei se a Morte tem sorte nos dados ou tem alguma estratégia para dominar a Avenida Paulista, a Brigadeiro Faria Lima e as companhias de trem. Mas acho que a aposta mais segura seria uma partida de Twister. As roupas da Morte não parecem ser muito apropriadas para esse jogo. Se ela ficasse em uma posição constrangedora ou se seu cofrinho aparecesse, tenho certeza de que isso denegriria sua imagem e ela desistiria do jogo. E, mesmo que eu perdesse, minha alma seria a última que ela levaria, porque tenho certeza ninguém mais respeitaria a Morte depois de vê-la de quatro, contorcida sobre um tapete colorido.
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domingo, julho 17, 2005*
Desesperados pelos prêmios?No dia 14 de julho, foram divulgados os indicados aos prêmios Emmy 2005 e, apesar de não haver muitas novidades surpreendentes, a lista de indicados serve de reflexo do atual cenário da televisão americana. Existe uma pequena diferença pragmática entre a academia que realiza o Oscar e a que produz o Emmy. A Academia de Artes e Ciências da Televisão é, de fato, um pouco menos certinha do que seus amigos dos filmes. E uma vez que a televisão tem uma produção mais limitada do que a do cinema, os concorrentes também são limitados e o julgamento é menos descaradamente injusto ou ligado a lobbys milionários. Além disso, os programas de televisão são transmitidos para o público e a crítica durante toda a temporada, o que promove um conhecimento e um julgamento quase homeopático dos candidatos aos prêmios. Este ano, as séries com maior número de indicações foram Desperate Housewives (15), Will & Grace (15), Everybody Loves Raymond (13), Lost (12), Arrested Development (11), Deadwood (11) e 24 Horas (11). Comédia com escassez de excelênciaA primeira - e talvez maior - conclusão que se pode tirar da lista de indicados está nas categorias de comédia. O gênero, que está em clara crise há alguns anos, apresenta cada vez menos concorrentes sólidos. Os cinco indicados a melhor série do gênero este ano ( Arrested Development, Desperate Housewives, Everybody Loves Raymond, Scrubs e Will & Grace) são quase todos apostas óbvias ou favoritos de anos anteorires. Parece cada vez mais difícil pensar em excelência cômica na tevê. É por isso que há uma concentração de indicações entre poucos programas de comédia nessa edição do Emmy. Quatro das cinco séries indicadas na categoria Melhor Série de Comédia receberam 11 indicações ou mais. Uma das líderes é Desperate Housewives, aparecendo 15 vezes na lista, atual favorita do público e forte concorrente aos prêmios. Outra grande indicada, Will & Grace, também recebeu 15 nominações, mas pode sair de mãos abanando. Também devido à escassez de bons programas cômicos, a quinta indicada, Scrubs, finalmente conseguiu um espaço no Emmy (além de Zach Braff como melhor ator e mais duas categorias técnicas), mesmo que a qualidade tenha caído um pouco desde as primeiras temporadas da série. A única comédia que continua sendo verdadeiramente ignorada pela Academia é Gilmore Girls que, apesar de não apresentar sequer frações da qualidade de suas temporadas iniciais, é um produto interessante dentro do cenário cômico televisivo. Indicados como Everybody Loves Raymond, Will & Grace, Monk e Malcolm são prováveis sinais de que os votantes do Emmy buscam antigos vencedores ou indicados para suprir essa escassez de índices de excelência. O elenco de Everybody Loves Raymond pode ser o único deste grupo a vencer em alguma categoria, marcando o final das oito temporadas da série - o que não ocorreu com a decadente Friends. A única briga real nas categorias de comédia deve ficar entre Arrested Development - vencedora de cinco prêmios em 2004, incluindo Melhor Série de Comédia - e a nova queridinha do público, Desperate Housewives. Deixo de lado as controvérsias de Desperate Housewives ter se inscrito na categoria de comédia. As verdades são duas: a primeira é que a série não se vende como um drama (à Lost por exemplo) e a segunda é que os produtores simplesmente decidiram se aproveitar da fragilidade do gênero para abocanhar mais nominações. Simples como isso e não é crime nenhum fazê-lo. Falando na série, a única categoria em que Desperate Housewives tem vitória certa é a de Melhor Atriz, concorrendo com Marcia Cross, Teri Hatcher e Felicity Huffman. No Globo de Ouro deste ano, Hatcher - a menos merecedora - levou a melhor. Na mesma cerimônia, Eva Longoria foi a única componente do elenco feminino principal que foi (injustamente) ignorada, fato que se repetiu no Emmy. Se a Academia de Artes e Ciências da Televisão pensar como os votantes do Globo de Ouro, Teri Hatcher vancerá novamente a categoria, tirando o prêmio de Cross e Huffman - ambas equivalentes e ambas superiores a Hatcher. Talvez bastante parcialmente, sou obrigado a dizer que Arrested Development é favorita na categoria de Melhor Série, a quilômetros de distância. Tanto a série quanto Jason Bateman e Jessica Walter estão a anos-luz de qualquer outro concorrente em suas respectivas categorias. Se o risco na categoria principal está com a concorrência de Desperate Housewives, é uma questão de simpatia, popularidade e pouquíssimos momentos interessantes em 22 episódios (os mesmos motivos que deram a Teri Hatcher o prêmio de Melhor Atriz de Comédia no Globo de Ouro). Fora isso, não tem pra mais ninguém. Estranhamente, duas das séries mais indicadas nas principais categorias de comédia estavam ameaçadas de cancelamento. Arrested Development quase terminou após sua primeira temporada, mas ganhou mais uma chance, venceu o Emmy de 2004 e retornou para uma segunda temporada com apenas 18 episódios. Depois da segunda temporada, a Fox também vacilou, mas renovou a série. Quanto a Scrubs, o programa estreou com boa audiência, mas perdeu bastante público em suas temporadas seguintes. Em maio deste ano, a NBC anunciou que renovaria a série, mas deixaria-a na geladeira por algum tempo, sem data definida para estrear. Scrubs recebeu quatro indicações. Drama volta a privilegiar televisão abertaApesar de a principal categoria dramática do Emmy ter entre seus indicados duas séries de tevê a cabo ( Deadwood e Six Feet Under) e três da televisão aberta ( Lost, 24 Horas e The West Wing), as demais categorias refletem o respeito que a Academia de Artes e Ciências da Televisão voltou a dar ao segundo grupo. Nas edições anteriores, a televisão por assinatura dominava o gênero com Six Feet Under e The Sopranos, dividindo espaço com Deadwood, The Shield e Nip/Tuck. Dessa vez, HBO, Showtime, FX e afins ocupam aproximadamente apenas 30% das principais categorias dramáticas. Em um plano geral, essas categorias apresentam poucas supresas, mas algumas justiças pouco esperadas. Apesar de ter esquecido Peter Krause ( Six Feet Under), a Academia lembrou-se de Hank Azaria ( Huff), Hugh Laurie ( House), CCH Pounder ( The Shield), entre outros. No entanto, os votantes do Emmy teimam em valorizar J.J. Abrams e suas séries, dando indicações injustificáveis a Lost (nas categorias de Melhor Roteiro e Melhor Ator Coadjuvante) e a Jennifer Garner ( Alias). Mesmo com poucas surpresas, parece difícil prever os vencedores das categorias do gênero. Com 24 Horas e The West Wing praticamente sem força diante da crítica e do público, e Deadwood não correspondendo às expectativas de grande parte dos espectadores, abre-se caminho para Six Feet Under e Lost em Melhor Série de Drama. Apesar de discussões quanto à qualidade de Lost por parte da crítica, a série ainda possui uma certa aura de mistério e engenhosidade, o que pode agradar os votantes. Na categoria de Melhor Ator, o prêmio deve ser disputado por James Spader ( Boston Legal) e Hugh Laurie ( House), dois atores que se destacam fortemente em programas não tão reconhecidos. Ian McShane ( Deadwood) - usando uma expressão reprimível - corre por fora, elogiado pelos votantes tanto do Emmy quanto do Globo de Ouro. No restante, a melhor atriz deve ser Mariska Hargitay ( Law and Oder: Special Victims Unit), podendo perder apenas para Glenn Close ( The Shield) e Frances Conroy ( Six Feet Under). As categorias de coadjuvantes estão indefinidas, mas Alan Alda e Stockard Channing são as poucas chances de The West Wing ganhar seu único prêmio do ano. Categorias técnicas refletem cuidados (e gastos) com a produçãoAs indicações nas categorias técnicas, como de costume, são as que apresentam maior justiça. Imagino (preguiça de checar fatos, sim) que apenas profissionais ou especialistas em determinadas áreas podem votar nessas categorias, o que explica uma análise menos emocional e mais - logicamente - técnica. Exemplo disso são as oito indicações de Carnivale, série mais bem produzida e uma das mais caras da temporada 2004/2005. Nas categorias principais, o programa não recebeu sequer uma indicação, mas é favorito nas categorias de Direção de Arte e Fotografia. Nas categorias de Melhor Direção, Desperate Housewives deve vencer entre as comédias, enquanto CSI (em um episódio/golpe-de-marketing-primoroso dirigido por Quentin Tarantino), Lost e a vencedora de longa data The West Wing são as favoritas. Os roteiros de Arrested Development foram lembrados três vezes na categoria de comédia e a vitória da série é praticamente certa. Em drama, o vencedor é imprevisível, com cinco indicados inesperados ( House, Rescue Me, The Wire e duas indicações para Lost) e a ausência de antigos favoritos como Six Feet Under e The West Wing. A lista completa de indicados pode ser encontrada no site oficial do Emmy. A cerimônia de entrega dos prêmios será realizada no dia 18 de setembro de 2005, em Los Angeles. ***Eu sei que vocês não iam gostar. Desolé. Quando chegarmos mais perto do prêmio eu coloco minhas apostas aqui.
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quarta-feira, julho 13, 2005*
Espírito de porcoMinha memória falha, mas me diz que eu descobri o cinema em algum ponto entre 1997 e 1998, aproximadamente. Tenho uma imagem remota da cidade de Fargo, de um cara chamado Jerry e de um inglês chato, mas tenho certeza que a minha maior diversão era tentar adivinhar quem ia ganhar o Oscar. Um ano depois, já lembro que sabia não ser o único a torcer contra Titanic. Não imagino que fosse uma postura intelectualóide de um ser de 12 anos de idade, contra o cinema-pipoca, que aliena nossa classe trabalhadora, mitifica a bourgeoisie iluminista, kitschifica a verdadeira arte e narcotiza nossas crianças indefesas. Não, nada disso. Titanic foi provavelmente minha primeira percepção de um filme absurdamente ruim. Aquele iceberg, aquela mão no vidro embaçado e aquele grito imbecil na proa do navio fizeram surgir um senso crítico. A intenção não é narrar minhas desventuras nas salas de cinema ou olhar nostalgicamente para o dia em que vi meu primeiro filme, maravilhado com a luz vacilante do projetor e com imagens se movendo - se movendo, que mágico! - na tela grande. De fato, penso que sempre tive a consciência de que o cinema não tem magia alguma. Meu primeiro interesse pelo cinema era realmente entender como funcionam as produções e premiações. Gostava de ler as previsões e aspirações ao Oscar, compará-las com os vencedores do Globo de Ouro, saber quais eram os projetos em andamento e como andavam negociações com elencos. A intenção também não é delatar o espírito caça-níquel da indústria cultural, que aliena nossa classe trabalhadora, mitifica a bourgeoisie iluminista, kitschifica a verdadeira arte e narcotiza nossas crianças indefesas. Pretendia criar um pano de fundo que mostrasse o desenvolvimento do que eu entendia como o cinema. Digamos que eu resolvi desenvolver um senso crítico lentamente, à medida que fazia uma transição dos filmes do Van Damme que era via aos 10 anos com os coleguinhas da escola para filmes que não envolvessem ninjas. É claro que esse salto qualitativo significou, em um primeiro momento, filmes recentes do 007 e comédias-pastelão (mas nunca as do Ernest). Lógico que ninguém de 12 anos pode dizer que via Tati e achava a coisa mais genial do mundo. Em primeiro lugar, ninguém de 12 anos não-possuído-pelo-demo alugaria um filme do Tati ou ligaria a TV pensando "Hmmm, esse filme ítalo-francês de temática kafkiana de 1958 deve ser di-vi-no!". Não dava importância para o que o Cahiers falava (até porque a palavra caiê não significaria nada pra mim em 1998), mas também desconhecia a existência de um circuito alternativo e, como todo bom ser humano alienado e narcotizado pelo capitalismo, achava muito legal ir ao Cinemark. Depois - bem depois de 1998; 2001, digamos - que eu fui apresentado ao cinema, não tinha como escapar da influência dos clássicos. Na verdade, no início eu não dava a menor importância para os clássicos. Afinal, o que seriam os clássicos? Não fazia diferença para mim. Mas em muitas das listas de Os 153790 melhores filmes de toda a existência pluricelular, o tal do Cidadão Kane (que eu já tinha ouvido falar, logicamente) figurava como o número um na maioria das vezes. A primeira vez que ouvi/li o nome de Orson Welles foi provavelmente em algum texto ou história sobre aquela narração em rádio de A guerra dos mundos, de H.G. Wells, em algum dia indeterminado da minha vida. Não dei importância nenhuma, claro, e só achei engraçado que o fato de o único Orson que eu já tinha ouvido falar fosse um porco do desenho do Garfield. Enfim, relutava em ver o Kane só pra fazer pirraça, só pra não me fazer de vendido pros críticos pedantes e idiotas, que achavam genial exaltar filmes em preto-e-branco e de diretores escandinavos. Evocava com sarcasmo uma teoria da conspiração secreta dos jornalistas culturais, associações e academias, que combinavam de endeusar Orson Welles. Mas cedi às pressões em 2004, indeliberadamente. A conclusão dessa história desnecessariamente longa é: Welles aliena nossa classe trabalhadora, mitifica a bourgeoisie iluminista, kitschifica a verdadeira arte e narcotiza nossas crianças indefesas. Mas ele até que nao é mau. Fui consumido pelo sistema, de certo modo. Aprendido a apreciar roteiro, fotografia, mise-en-scène, trilha sonora, montagem, plongé, contre-plongé, plano seqüência e faux raccord. Mas, felizmente, ainda tenho o bom-senso de desprezar os contracampos.
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terça-feira, julho 12, 2005*
 Beatles confirmados no Tim Festival. Tati Quebra Barraco vai abrir o Curitiba Rock Festival. Paris Hilton vai fazer strip-tease no Nokia Trends. MC Serginho vem pro Claro que é Rock. Minha banda vai tocar no Festival do Rio. Por que as pessoas não calam a boca, se decidem d'uma vez e depois espalham umas notinhas decentes? ***Só acredito vendo nos sites das bandas. Weezer Curitiba, BR Brazil Curitiba Festival On-Sale July 25thKings of Convenience Sat, Oct 22 2005 Rio de Janeiro, Brazil Museum of Art, Tim Festival 2005The Strokes The band will return to the stage this October form the first time in a year to tour South America. All we can say for now is that they will be playing in Argentina, Chile and Brazil.Acredito nisso e nada más!
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segunda-feira, julho 11, 2005*
Dezoito-Não vou ao cinema há meses! -Sério?! Por quê? -Não sei. Falta de tempo, acho. O último filme que eu vi foi Espanglês. -Isso não foi há três semanas? -Aham. -Ah, você disse que não ia ao cinema há meses, achei que era sério. -Lógico... *** -Tenho 18 provas e trabalhos essa semana! -Nossa, mas vai como você vai ter tempo de fazer isso tudo?! -Era maneira de falar. -Como assim? -Nada não... *** -'Tô lendo mil livros ao mesmo tempo nessas férias. -Mil?! Que absurdo! Eu nem conheço mil livros! -... -Que foi? -Eu quero o divórcio. Verdade. -Hehehe, bobinho. -Como é que AGORA você não leva a sério? -Vamos. Tem algodào doce ali na frente. -...
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sábado, julho 09, 2005*
Adams de novo - ...ele lhes contou tudo - disse o homem, selvagemente - e, até onde sei, continua contando coisas até agora. Coisas estranhas e terríveis... terríveis, terríveis! - gritou. Tentaram acalmá-lo, mas ele fez força e se apoiou nos cotovelos novamente. - Coisas terríveis, incompreensíveis - gritou -, coisas que deixariam qualquer homem louco! Olhou para eles assustado. - Ou, no meu caso - acrescentou -, meio louco. Sou um jornalista. - Você quer dizer - perguntou Arthur, baixinho - que você está acostumado a se defrontar com a verdade? - Não - respondeu o outro com o semblante franzido. Quero dizer que inventei uma desculpa e saí mais cedo.
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quinta-feira, julho 07, 2005*
Últimas não-aquisiçõesArchitecture in Helsinki - In case we dieArt Brut - Bang bang rock and rollBabyshambles - Shaking and withdrawn megamixDavid Bowie - The rise and fall of Ziggy Stardust and the spiders from MarsDeath from above 1979 - You're a woman, I'm a machineDogs Die in Hot Cars - Please describe yourselfDoves - Some citiesInterpol - Black session EPKaiser Chiefs - EmploymentKasabian - KasabianMaximo Park - A certain triggerMiles Davis - Bitches Brew e Kind of blueM.I.A - Arular Oasis - Don't believe the truthThe Raveonettes - Pretty in blackRazorlight - Up all nightScissor Sisters - Scissor sistersWeezer - Make believeE diversos mashes. Architecture in Helsinki é a coisa mais genial que eu ouvi em 2005. O resto é resto (menos Interpol, logicamente). E pareceu piada seguir Miles Davis de M.I.A Breaks The Tent. Mas o mash-up The Bravery vs M.I.A é bom demais. Obrigado (parcialmente), Virginia.
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quarta-feira, julho 06, 2005*
A mãe do Seinfeld vai ao sebo-Vim devolver esse livro. -Devolver?! -É. Comprei esse livro na semana passada, mas mudei de idéia. -Nós não aceitamos devoluções. -Ahn? -Nenhum sebo aceita devolução de livros. -Como não? Eu te devolvo o livro e você me dá meus três reais de volta, simples. -Eu não posso fazer isso! Você já usou o livro, não posso devolver seu dinheiro. -Achei que toda a filosofia de vida de um sebo era pura e simplesmente dar dinheiro por livros usados. Está na Bíblia sebácea, no código de ética dos sebos e - principalmente - no about me dos sebos no Orkut. Se você desmentir seu about me eu dou bogus em você! -Ok, nós não podemos aceitar devoluções. Mas se você quiser vender seu livro, nós podemos pagar. -Finalmente. -Toma, dois reais. -Dois reais?! Espertinhos vocês. Eu paguei três reais nesse livro. Você então quer comprar esse mesmo livro por dois reais? -É assim que funciona. -E eu saio no prejuízo? -Não exatamente. -Se o livro vale dois reais, por que eu tive que pagar três reais nele? Quero meu um real de desconto retroativo. -Você não entendeu... -Não! Eu entendi perfeitamente. Vocês têm alguma coisa a ver com as grandes corporações que eu vi naquele filme! -Você já usou o livro. Nós vamos pagar dois reais por ele. -Mas ele já estava usado! Você acha que um livro pode ficar mais usado em uma semana? -Não importa! Você leu o livro e foi por isso que você pagou! -Quem disse que eu li o livro? Pode me perguntar qualquer coisa! Não sei nem que é esse Hemingway, eu juro! -Isso não importa. Nós não aceitamos devoluções e não vamos pagar três reais! -Vou chamar o Procon!
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domingo, julho 03, 2005*
Os oitentas... criogenizadosE vinte anos depois, os oitentas voltaram. Digo os oitentas porque essa febre injustificável é importada dos nossos titios do hemisfério norte. Na verdade, pior do que isso. Esses the 80s são tão trash que provavelmente foram trazidos de Miami pela sua vizinha gorda muambeira que ainda teve que molhar a mão do fiscal da alfândega. Será que as pessoas esqueceram que, há três anos, essa década era vista como a mais vergonhosa, do ponto da vista da produção cultural (pra não falar de outras áreas talvez mais vergonhosas)? Então por que motivo ressuscitaram o Atari, a Daryl Hannah, o Kid Vinil e o Van Halen? Na música, 1980 resolve endeusar todo aquele anti-punk e eletro-pop, que podem até ter sido legaizinhos, mas nasceram e morreram naqueles 10 anos. Duran Duran deu sorte de ter durado (me seguro e não faço trocadilho, prometo) até hoje, mas só porque eles eram incomensuravelmente ruins (o que era uma boa coisa, para se ter uma idéia de como foi essa década). A seqüência Joy Division-New Order, por outro lado, nunca foi vista como o trash oitentista, por algum motivo que eu só posso especular. É possível que isso se deva ao fato de o Joy Division ter nascido em 1976, na onda punk à A festa nunca termina ou por o New Order ter durado até hoje, tendo se transformado e acompanhado as tendências (principalmente estéticas) dos não-tão-ruins-porém-ainda-mais-pops anos 90 e nesses ainda-cedo-demais-para-classificar-com-enormes-expressões-hifenizadas anos 2000. Pergunta: por que The Bravery, Franz Ferdinand e The Killers fazem sucesso no cenário internacional? A minha aposta é que bandas que reprisavam a música dos anos 80 se formam desde 1º de janeiro de 1990, mas nunca foram devidamente valorizadas (graças a Ford). Em 1995, o público formador de opinião ainda se lembrava de toda aquela porcaria, mas não a via como tal. Em 2000, tomaram consciência do mal que fizeram à humanidade e se redimiram sacaneando a si próprios no cinema e na TV. Hoje, o renascimento do ruim é bom, o trash é pop e vestir-se mal é fashion. O primeiro passo foi uma explosão de bandas de um "gênero" 80s. Sobreviveram as melhores, logicamente. Pra constar, gosto bastante das três bandas citadas no parágrafo acima. Para justificar meu evidente bom-gosto, digo que, em vez de reproduzir a música da época, essas três ótimas bandas a reinventaram. Mas é lógico que isso é só um argumento retórico. Mas e quando essa moda for kitschificada (esbanjo meus conhecimentos de maneira errada mesmo, vai encarar?) e o Luciano Huck lançar um reality show em que a banda que fizer o melhor cover de The final countdown ganha um contrato com a Som Livre? Quando relançarem a lambada no próximo carnaval e trouxerem o Patrick Swayze pra fazer um filme sobre assassinatos e lamba-strippers em Salvador, não digam que não avisei. Se a pós-modernidade, que supostamente envolve a década de 80, é caracterizada por um resgate do passado e uma valorização da subjetividade (que acaba por dar importância a todo tipo de expressão cultural), acho que o revival dessa época é um surto infeliz de pós-contemporaneidade (ou pós-pós-modernidade, se você quiser parecer engraçadinho) ou de uma simples valorização do pós-moderno (o que parece uma metafísica cancliniana, mas deixa pra lá). PS: Não comentei explicitamente o rock progressivo porque, quando comecei o parágrafo, tive uma ânsia de vômito e desisti. Lógico que poderia ser a salada de batata do almoço, mas nunca arrisco pensar muito em Marillion e coisas do gênero.
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 Se a vida imita a arte, isso significa que a vida é kitsch?
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sexta-feira, julho 01, 2005*
 Tô começando a me irritar de verdade com certas pessoas... Fulano vai ler esse blog e achar "Oh, será que sou eu só porque eu dei uma mordida grande no joelho (sic) dele?". Não se vanglorie... Palavras-chave do post: provocação, paranóia, tequipismo. *** Ok, o Tim Festival vai trazer a banda de três anos atrás em outubro. Big f***ing deal. Nunca mais acredito naquele cara da Folha.
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about myself*
Quem: Bruno Boghossian
De quando: 30/03/1986
Onde: Rio de Janeiro
Quê: Comunicação Social (ECO/UFRJ - 2004/1)
Something to talk about: Viagens, livros, TV, cinema e música
Contato

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TV
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Arrested Development
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The King of Queens
Monk
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Milos Forman
Stanley Kubrick
Jean-Luc Godard
Lars Von Trier
Charlie Kaufman
Alan Ball
Robert Altman
Bernardo Bertolucci
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Sidney Lumet
Música
Architecture in Helsinki
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The Doors
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The Stills
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The Who
Livros
O Melhor Livro Sobre o Nada (Jerry Seinfeld)
O Alienista (Machado de Assis)
Dom Casmurro (Machado de Assis)
Um Grande Garoto (Nick Hornby)
A Revolução dos Bichos (George Orwell)
Como Ser Legal (Nick Hornby)
Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley)
O Apanhador no Campo de Centeio (J.D. Salinger)
Ensaio Sobre a Cegueira (José Saramago)
O Guia do Mochileiro das Galáxias (Douglas Adams)
O Restaurante no Fim do Universo (Douglas Adams)
On The Road (Jack Kerouac)
Budapeste (Chico Buarque)
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